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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

ARTIGO

PROGRAMA DE ENXUGAR GELO
Públio José – jornalista

Essa colocação me foi apresentada numa reunião com lideranças nas Quintas. A pessoa que se levantou, reclamou, primeiramente, dos políticos e governantes que promovem programas assistenciais nos bairros durante os finais de semana, distribuindo favores, alimentos e outros serviços. 

Segundo a sua observação, nos dias subseqüentes, tudo volta ao que era antes na vida dessas pessoas. E arrematou: “Esse povo quer enrolar a gente com seus programas de enxugar gelo”. Todos conhecem essa expressão. Significa a pratica de uma atividade que pouca utilização tem ou quase nenhum resultado oferece. “Enquanto isso – ressaltou – as escolas permanecem fechadas durante os fins de semana, sem prestarem nenhum serviço à comunidade. O senhor podia pensar a respeito disso”. Foi o suficiente.

De repente, começou a se formar na minha cabeça todo um conjunto de idéias e iniciativas que poderíamos levar às comunidades, principalmente as mais carentes, durante os fins de semana. E imaginei também como a rede de escolas estaduais e municipais é bem estruturada para isso – e ao mesmo tempo tão inoperante nessa direção. 

A verdade é que, enquanto nos dias de semana as pessoas nos bairros estão atuantes em suas casas, nas escolas, nos locais de trabalho, portanto ocupadas, as escolas também estão em funcionamento. Mas o que acontece nos fins de semana? Nas localidades mais carentes as pessoas estão em casa, ociosas, necessitadas de ocupação, de lazer, de entretenimento, de assistência e acompanhamento – e as escolas fechadas. 

E o interessante é que é raro o conjunto habitacional, bairro ou qualquer outra aglomeração aqui em Natal que não disponha de uma boa escola bem estruturada fisicamente.  

Assim, estamos sugerindo ao próximo prefeito de Natal um projeto no sentido de levarmos aos bairros, através das escolas, um leque de atividades que vai desde a iniciativa mais simples, como reuniões de cunho esportivo e social, às mais complexas: capacitação profissional, campanhas de aleitamento materno, de esclarecimento da gravidez na adolescência, campanhas de saúde pública que envolvam o combate às pragas urbanas (ratos, baratas, moscas, dengue, droga, alcoolismo, prostituição, etc, etc), ensino de artes plásticas, de música, de produção culinária e artesanal, exposições de arte, feiras, congressos, seminários... 

Enfim, um profundo e variado portfólio de ações as mais diversas, com o objetivo de prover as pessoas mais carentes de um sistema permanente de informações e de assistência social.

Com pouco tempo os indicadores sociais assinalariam o acerto da execução desse projeto. As pessoas, ao serem valorizadas e esclarecidas, tenderiam a largar a ociosidade e a prática de todas as suas conseqüências. Os jovens, de ambos os sexos, passariam a enxergar na escola uma parceira bem mais ampla do que aquela que lhe exige simplesmente boas notas nas matérias ministradas durante a semana. 

Os idosos passariam a viver a vida com perspectiva bem mais otimista, em função do aprendizado de alguma atividade que viesse lhe tirar de uma existência sedentária e sem objetivo. Todos, enfim, sairiam ganhando. E os políticos e governantes com seus “programas de enxugar gelo?” Bem, estes com certeza não desapareceriam. 

Mas passariam a buscar a chance de enganar o povo em outras paragens. Quais? Aí é outra conversa. Por hoje o espaço acabou.

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